sexta-feira, 4 de abril de 2014

Toda "falta" é pensamento - Jeff Foster



"Você não pode ter o que quiser, sempre.

É o mesmo querer, que destrói a possibilidade de ter o que você quer; porque o querer é a própria falta que você está tentando superar.
Querer é falta. 

Você tenta usar o mecanismo de querer acabar com a falta, mas qualquer alívio é apenas temporário, e podem voltar em breve, porque se alimenta do desejo. 

É um círculo vicioso.

Querer, implica que algo pode ser capturado e ser propriedade de alguém. Mas quem poderia capturar, quem poderia ter?

Só existe isso, só existe isso que está acontecendo, apenas a presença de tudo. E isso nunca pode ser capturada porque não é uma coisa entre outras coisas, mas a possibilidade aberta e espaçosa de todas as possibilidades, que em primeiro lugar origina todas as coisas . Isto não pode ser capturado, porque não é um "aquilo".

Se formos honestos, nós realmente não queremos o que desejamos. O que realmente queremos é acabar com o nosso desejo.

Mas aqui está o problema: querermos acabar com o desejo é outro desejo, talvez, o maior desejo de todos.

Talvez queremos esconder o óbvio: nós já temos tudo o que poderíamos querer, porque neste precioso momento, o final de todos os nossos desejos, de toda nossa busca, de todos os nossos problemas já está conosco, e esse final é tão simples: esses desejos, problemas, falhas, dificuldades, aborrecimentos realmente não existem, porque eles são simplesmente pensamentos que surgem agora. 

Isso é tudo o que eles são, todos os problemas do mundo: PENSAMENTOS.

Assim que, não é o fim do pensamento o que realmente queremos? Mas isso seria mais um outro pensamento?

Não é realmente necessário terminar com o pensamento. 

O pensamento ocorre, o pensamento vem, e não há ninguém fazendo isso. Isso não é evidente? 

O pensamento só aparece, portanto, o pensamento já não é "meu", não é pessoal, isso só acontece nesta consciência infinita, neste espaço aberto, que não está separado de seu conteúdo.

Como nuvens que flutuam no céu, pingos de chuva deslizam para baixo no vidro da janela, os pensamentos não são realmente problemas, em absoluto.

Os pensamentos são apenas um problema quando uma pessoa quer se livrar deles. Mas como poderia um indivíduo se livrar do pensamento? 

Um indivíduo é ele próprio um pensamento que tenta se livrar de si mesmo! É um carrossel, e não há maneira nenhuma que uma pessoa tenta escapar.

Assim, um indivíduo nunca pode, nunca tem o que quer, porque o indivíduo é em realidade nada além do que essas carências, esses desejos, esses problemas. Libertar-se dos desejos seria morrer, e por que um indivíduo iria querer tal coisa?

Para se libertar dos desejos tem que ser livre daquele que quer se libertar dos desejos - e quem poderia fazer isso acontecer?

Não, não há nenhuma maneira de escapar, a vida é como é.(...) 
O buscador é a resistência, e a resistência não pode terminar com a resistência, nem em um milhão de anos.

No entanto, a resistência pode ser vista - na luz. E neste ver, há liberdade. E nessa liberdade, não quero nada, não desejo nada e, portanto, não falta nada. E então, quando nada é seu, você percebe que tudo é seu, e sempre foi.
E então, você ainda pode jogar o jogo do querer. Mas mesmo que "você consiga ou não consiga o que você quer", a intimidade permanece, sempre."
Jeff Foster em The Wonder of Being

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Isso! - Jeff Foster



"Depois de anos de diferentes mil buscas chegamos ao momento presente, que é este momento. Mas, com isso não me refiro tanto a ideia do "momento presente", senão, de maneira muito literal, a isto, quer dizer, a aparência presente de tudo isto, mais além de toda a palavra e de todo conceito. 

As batidas do coração (bum, bum, bum!)

A respiração. Para dentro, para fora, para dentro, para fora... 

O suave zumbido do tráfego. A sensação de sustentar este livro nas mãos. 

Os pensamentos que aparecem, se dissolvem e tornam a aparecer...

Independente do que tenhamos vivido, do que tenhamos "descoberto" e do que tenhamos "compreendido", isso sempre está aqui e agora, e o indivíduo (quer dizer, "você") que, tratando de encontrar a si mesmo tem vivido, "descoberto" ou "compreendido" todas essas coisas não eram mais que pensamentos, histórias, crenças. 

Neste mesmo instante, "você" não é mais que uma ficção. 

Mas isso não significa que você deva negar a ficção, porque a ficção sempre seguirá emergindo. Deixe-a simplesmente estar. 

Quem sabe a libertação, se é que seja algo, consista em ver através dessa ficção, quer dizer, em ninguém reconhecendo a ficção como tal. 
Mas ainda isso seria dizer demais, porque essa pequena sequencia de palavras consolida a "libertação" como um objetivo que há que se "alcançar", como algo que há que se "realizar". Mas por mais que a mente lhe conte este tipo de historias — "Quando puder ver a ficção como tal, terei me libertado!" — desse modo você só incentiva a busca da libertação, com o que a mente segue vagueando livremente, como sempre. 

A libertação não tem nada a ver nem com as palavras nem com os conceitos. Mas, como temos que utilizar palavras (de que outro modo, se não, poderíamos escrever um livro?), caímos irremediavelmente na armadilha de buscar a libertação como se fosse um objetivo, como se se tratasse de algo que podemos alcançar no futuro, como uma espécie de ideal. 

Mas a mensagem contida neste livro é que a libertação consiste em ver através desta busca. A libertação, se é que seja algo, consiste em ver através da busca da libertação, da busca de algo mais importante que isto, a busca de algo distinto desta presente aparência. 

Mas, já não temos desperdiçado nossa vida o suficiente buscando algo diferente disto? 

A libertação, se é que seja algo, consiste em ver através de todo o drama humano e de todas as coisas que, de maneira muito literal, configuram nossa vida. (...)

Para o personagem "Jeff", tudo mudou, porém, tudo segue absolutamente igual. Quem sabe, a única diferença é que, durante esses dias, "Jeff" foi reconhecido como um mero personagem, como uma simples história que carece de toda realidade profunda flutuando na consciência. 

A libertação é absolutamente simples e evidente. A busca havia concluído e o que sempre estivemos buscando não é mais que esta presente aparência. Isto, aqui e agora. Não há nada mais. Nunca houve nada mais."
Jeff Foster em Mas alla del Despertar